Economia

“Chegamos ao fim da hiperglobalização”, afirma Eduardo Giannetti durante Encontro da Indústria 2025

Economista destacou os impactos globais e nacionais do novo cenário econômico e reforçou a importância da reindustrialização brasileira durante evento da Findes e Cindes em Vitória

A era da hiperglobalização chegou ao fim. A afirmação, categórica e fundamentada, foi feita pelo economista e professor Eduardo Giannetti durante o Encontro da Indústria 2025, promovido pela Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) e pelo Centro da Indústria do Espírito Santo (Cindes), no último dia 22 de maio, em Vitória.

Diante de uma plateia formada por empresários, lideranças industriais e autoridades políticas, Giannetti apresentou a palestra “Desenvolvimento econômico e perspectivas para a Indústria Brasileira”, em que analisou o cenário internacional, os desafios da economia brasileira e as oportunidades para o setor industrial.

“Estamos vivendo o fim de um ciclo longo de hiperglobalização. Essa é uma mudança estrutural e permanente. Começou a perder força com a crise financeira de 2008, se aprofundou durante a pandemia e se consolidou com a fragilidade das cadeias globais de produção”, destacou.

Segundo o economista, o momento exige do Brasil — e especialmente de estados com vocação industrial, como o Espírito Santo — uma nova postura diante da reorganização das cadeias produtivas globais. Ele defendeu a reindustrialização como caminho estratégico para o desenvolvimento econômico nacional.

“O Espírito Santo tem uma forte participação industrial no PIB e vantagens competitivas que precisam ser bem aproveitadas. O grande desafio é agregar valor à produção, especialmente no setor alimentício”, afirmou.

Giannetti alertou ainda para o avanço do protecionismo em diversas economias, como os Estados Unidos, que vêm adotando políticas de aumento tarifário e incentivos internos. Esse movimento, segundo ele, gera incertezas nas regras do comércio internacional, impacta investimentos e exige dos países maior diversificação produtiva.

O cenário global, segundo o economista, é marcado por “eventos de baixíssima probabilidade, mas de altíssimo impacto”, como pandemias, guerras, polarização política, revolução tecnológica, transição energética e mudanças climáticas. “Não há como prever, mas sabemos que eles acontecem e alteram profundamente a economia mundial”, afirmou.

Com isso, cresce a busca por segurança e resiliência nas cadeias produtivas, especialmente em setores estratégicos como o de semicondutores e ingredientes farmacêuticos.

Giannetti também abordou o contexto brasileiro, destacando que, por ter uma baixa inserção no comércio global, o país tem espaço para ampliar sua participação em setores como manufaturas, agricultura e serviços.

O economista ressaltou avanços recentes, como o crescimento acima de 3% ao ano, a redução do desmatamento e a melhora nos indicadores sociais, mas alertou para entraves estruturais que precisam ser enfrentados:

  • Juros elevados e fragilidade fiscal;

  • Custo Brasil e engessamento do orçamento;

  • Necessidade de reformar os gastos públicos e o sistema tributário;

  • Falhas logísticas e de infraestrutura que limitam o comércio internacional.

Para ele, o futuro passa, necessariamente, pela valorização do capital humano e pela gestão sustentável dos recursos naturais.

“A educação é o grande vetor de transformação. E o Brasil, com sua riqueza ambiental e vocação para energias renováveis, como a solar e a eólica, tem tudo para liderar uma economia verde e inclusiva”, defendeu.

Além da palestra de Eduardo Giannetti, o Encontro da Indústria 2025 também teve caráter comemorativo. Durante o evento, a Findes e o Cindes homenagearam personalidades e instituições que contribuíram para o desenvolvimento do setor industrial capixaba ao longo do último ano.

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