Economia

Especialista analisa o boicote dos frigoríficos brasileiros

O recente anúncio do Carrefour França, suspendendo as compras de carne bovina brasileira, gerou uma onda de reações tanto no mercado nacional quanto internacional. A decisão da gigante francesa, que inicialmente justificou o boicote com questões ambientais, levantou discussões sobre suas verdadeiras motivações. A especialista em gestão pecuária, Renata Erler, analisou os impactos econômicos, ambientais e políticos dessa decisão, apresentando uma visão crítica sobre os possíveis interesses por trás do movimento.

Renata Erler questiona a justificativa ambiental apresentada pelo Carrefour, sugerindo que o discurso de sustentabilidade pode estar sendo utilizado como um “protecionismo verde”. Para a especialista, essa estratégia pode estar sendo aplicada por países como a França, que enfrentam uma forte concorrência de mercados de baixo custo, como o Brasil, e uma pressão interna de seus produtores. A utilização de argumentos ambientais como forma de restringir o comércio seria uma maneira de proteger os mercados locais, prejudicando os exportadores brasileiros.

“Embora o Carrefour tenha baseado sua decisão em questões ambientais, é possível que este seja um movimento que visa proteger a agricultura local da França, que não consegue competir com os custos mais baixos da produção brasileira”, avalia Erler. Ela sugere que, ao adotar essas políticas, a França busca limitar o acesso de produtos brasileiros a mercados europeus, beneficiando-se de um discurso sustentado por questões ambientais.

O Brasil, um dos maiores exportadores de carne bovina do mundo, tem se esforçado para melhorar suas práticas ambientais, com iniciativas como rastreabilidade, certificações e investimentos em tecnologias sustentáveis. No entanto, Erler alerta que, apesar desses avanços, as ações brasileiras muitas vezes não são reconhecidas no mercado internacional.

“O Brasil tem investido em rastreabilidade e práticas ambientais avançadas, mas essas iniciativas muitas vezes não são valorizadas pelos mercados externos”, explica a especialista. Ela também aponta que o boicote do Carrefour pode desincentivar os esforços dos produtores brasileiros, prejudicando economicamente tanto grandes frigoríficos, como Marfrig, JBS e Masterboi, quanto pequenos pecuaristas.

Em resposta ao boicote, esses frigoríficos suspenderam o fornecimento de carne para o Carrefour em mais de 150 lojas no Brasil, incluindo as redes Atacadão e Sam’s Club. Associações do setor agropecuário, como a CNA, ABIEC e Fiesp, reagiram veementemente, alegando que, se a carne brasileira não é considerada adequada para o mercado francês, também não deveria ser comercializada em outras operações do Carrefour.

Para Renata Erler, o boicote do Carrefour vai além do impacto econômico e pode ser visto como uma oportunidade para questionar a forma como a sustentabilidade é tratada nas relações comerciais internacionais. “O Brasil está pronto para ser líder em sustentabilidade, com iniciativas como a geração de créditos de carbono. Contudo, é necessário que haja um diálogo mais transparente e um reconhecimento internacional dos nossos avanços”, afirma.

Ela também destaca que a tensão entre Carrefour e frigoríficos brasileiros expõe a necessidade de um alinhamento mais claro entre práticas comerciais e compromissos ambientais. Segundo Erler, a sustentabilidade não deve ser vista como uma barreira ao comércio global, mas como uma ponte para o desenvolvimento de soluções que beneficiem tanto os países exportadores quanto os consumidores. “Sustentabilidade deve ser uma aliada, não um obstáculo”, conclui a especialista.

 

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