Cultura

Autora capixaba destaca o poder terapêutico das palavras

Mercado editorial registra aumento do interesse em livros que relacionam a literatura como instrumento de cura para as doenças do corpo e da alma, a exemplo da estreia literária da jornalista e escritora Aurê Aguiar

Dezembro, tradicionalmente um mês de reflexão e introspecção, é o momento em que muitos fazem um balanço do que viveram ao longo do ano e renovam suas esperanças para o futuro. É também o período de superar traumas e deixar para trás as mágoas, o que, para muitos, pode ser facilitado por um aliado poderoso: o livro.

Nos últimos anos, o mercado editorial tem assistido a um aumento no interesse por obras que associam a literatura a processos de cura emocional e física. Um exemplo disso é o livro “Cuide dos seus achados, esqueça os seus perdidos”, de autoria da jornalista e escritora capixaba Aurê Aguiar. A obra, que aborda o poder transformador das palavras, conquistou espaço no mercado nacional ao propor uma reflexão sobre como a literatura pode ser um recurso terapêutico para a saúde emocional e mental.

Distribuído nacionalmente pela Citadel Editora, o livro de Aguiar entrou pela segunda vez no ranking dos mais vendidos na categoria Desenvolvimento Pessoal, refletindo uma crescente demanda por títulos que ressaltam o potencial curativo da palavra escrita. A obra segue a linha de livros como “Farmácia Literária”, de Ella Berthoud e Susan Elderkin, e “A Literatura como Remédio”, de Dante Gallian, que defendem o uso da literatura como um remédio para a alma.

Em seu livro, Aurê Aguiar explora o conceito de que as palavras podem ser pontes que conectam os indivíduos aos seus afetos mais profundos, promovendo uma gestão emocional mais saudável e, consequentemente, relações mais equilibradas. “Sou curiosa em relação ao poder das palavras. Sei que ditas ou escritas elas carregam algo de incognoscível. Esse ponto pode ser fator de adoecimento ou cura”, afirma a autora.

A inspiração para a escrita de “Cuide dos seus achados, esqueça os seus perdidos” surgiu de uma experiência pessoal de superação durante o período de pandemia, quando Aurê atravessou um luto profundo, envolvendo perdas emocionais e existenciais. “Foi nesse processo que a escrita se tornou uma terapia. O livro é uma prosa poética que visa ressignificar perdas, acolher e transformar dor em aprendizado”, revela a escritora.

A autora define sua obra como um “abraço literário”, uma forma de acolhimento através das palavras, que têm o poder de curar não apenas o espírito, mas também o corpo, como um antídoto contra o que ela chama de brain rot — a degeneração das mentes promovida pelo excesso de informações superficiais e a falta de conexão emocional genuína.

No universo de Aurê Aguiar, o livro se torna uma ferramenta para a prática da “ecologia emocional”, um conceito desenvolvido pelos psicólogos María Merce Conangla e Jaume Soler, que descreve a habilidade de administrar os afetos e a energia emocional para o crescimento pessoal. “Na cultura contemporânea, muitas vezes somos induzidos a esconder nossos sentimentos, em busca de aceitação em grupos ou de aprovação nas redes sociais. Contudo, ao não gerenciarmos nossos afetos, adoecemos”, observa Aguiar.

Para ela, a literatura é uma forma de promover a ecologia emocional, ajudando os leitores a se reconectarem com suas emoções de maneira saudável e construtiva. A escritora acredita que a prática dessa gestão emocional pode ser a chave para evitar o sofrimento físico e psíquico, frequentemente causado pela falta de reflexão sobre nossos próprios sentimentos.

No entanto, a autora se preocupa com um cenário que ameaça esse tipo de reflexão: os dados da pesquisa Retratos da Leitura de 2024, que revelam um declínio no número de leitores no Brasil. De acordo com a pesquisa, 53% da população brasileira não leu nem mesmo uma parte de um livro no último trimestre, marcando um aumento de 6,7 milhões de não-leitores em apenas quatro anos.

Aurê Aguiar alerta sobre os riscos de uma sociedade que se distancia da leitura e da reflexão profunda. “Estamos vivendo emergências múltiplas — climática, de saúde mental e socioemocional. A perda de leitores é um reflexo da desumanização promovida pela comunicação rápida, rasa e muitas vezes manipulada. A literatura tem o poder de nos reconectar com nossa humanidade”, conclui a escritora.

Ela defende que o livro seja considerado um bem essencial, afirmando: “Em um país como o Brasil, o livro deveria estar na cesta básica. A literatura é um movimento de amor exponencial, capaz de transformar o indivíduo e, por consequência, a sociedade.”

Assim, a obra de Aurê Aguiar não só entra para o mercado editorial como um sucesso de vendas, mas também como um convite à reflexão sobre o papel da literatura na construção de um mundo mais humano, sensível e emocionalmente equilibrado.

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