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ARTIGO – Que vergonha!

Uma investigação revelou que o crime organizado financiou a eleição de diversas autoridades. A polícia descobriu um bando de pistoleiros sustentados através do desvio de recursos públicos. Constatou-se que o Estado, afinal, dava cobertura à ação da pistolagem.

Foram vítimas de uma chacina as testemunhas de dado crime de homicídio praticado por pistoleiros ligados a algumas autoridades. Um empresário fechou as portas do seu negócio e fugiu, declarando não suportar mais ser achacado.

Um delegado denunciou que o crime organizado está infiltrado no mundo das leis. Acabou perseguido e removido para um local distante. Passou a conviver com ameaças a si e à sua família.

O ativista que dizia estar tudo dominado pela corrupção e pelo crime organizado foi assassinado a tiros. Seu enterro foi palco de grandes manifestações da sociedade civil.

Certo homem público que levou um dossiê ao mundo das leis, comprovando a disseminação da corrupção em diversos órgãos, pediu proteção policial, temendo por sua vida. Passados alguns anos desabafou que as denúncias foram todas “entubadas”. Deram em nada!

Um jornalista que revelou o estado de opressão vivido em um local dominado por bandidos protegidos pelas autoridades teve seu carro crivado de balas. Vítima de processos vários, teve que fechar seu jornal e fugir.

O comício de um candidato acabou por conta de pistoleiros ligados a partidos rivais. Uma pessoa foi morta a tiros. Não foram descobertos os autores do crime. Outro candidato foi impedido de entrar em dada comunidade por bandidos armados.

Cogitou-se de intervenção federal para combater a infiltração do crime organizado nas instituições, em seguida a denúncias de corrupção. Calculou-se quanto o crime organizado e a corrupção custam à economia.

Eis aí, sem retoques, o retrato de um passado não muito distante. Quando jovem lia notícias assim cotidianamente nos jornais. Angustiava-nos o apoio oficial ao banditismo mais primitivo.

Não sem grande dor as instituições reagiram. Durante algum tempo chegou a ser possível pensar que estávamos na aurora de tempos mais civilizados. Que o bem e a decência estavam predominando.

Mas eis que este tipo de notícia começa novamente a frequentar a imprensa. O mal voltou a gargalhar diante de uma população a cada dia mais acuada. Que vergonha!

 

Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no Espírito Santo

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