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ARTIGO – Paixão e Amor: Entre o Fogo Intenso e a Chama que Permanece

Falar sobre amor e paixão é mergulhar em dois dos sentimentos mais poderosos e contraditórios que movem o ser humano. Ambos despertam emoções profundas, conectam pessoas e dão sentido às relações, mas suas naturezas são bastante distintas. Enquanto a paixão é um turbilhão que chega de forma arrebatadora, o amor é o porto seguro que se constrói com o tempo, o cuidado e a convivência.

A principal diferença está na essência: a paixão é um sentimento intenso, impulsivo e muitas vezes idealizado. Ela costuma surgir de forma repentina, alimentada pelo desejo e pela atração, provocando aquela sensação de “borboletas no estômago”, o coração acelerado e a euforia típica dos começos. Nesse estado, a pessoa amada é vista quase como perfeita, e o foco recai sobre o encantamento — não raro, afastando o olhar da realidade.

Já o amor é mais sereno, consciente e maduro. Ele nasce da convivência e se fortalece com a reciprocidade, a confiança e o respeito mútuo. Se a paixão é fogo que queima rápido, o amor é a chama constante que aquece e ilumina, mesmo depois que a intensidade inicial se transforma em ternura e companheirismo. No amor, há espaço para enxergar o outro como ele realmente é, com qualidades e defeitos, e ainda assim escolher permanecer.

A duração também é um ponto que diferencia esses dois sentimentos. A paixão, segundo estudos psicológicos, tende a ser passageira — dura, em média, de um a dois anos. É o tempo em que a química e os hormônios, como a dopamina e a adrenalina, estão em alta, provocando uma sensação de prazer e euforia. Já o amor ultrapassa essa fase biológica e se consolida em um processo contínuo de construção, marcado pelo afeto, pela admiração e pelo compromisso mútuo.

Enquanto a paixão é movida pelo impulso e pela excitação, o amor se apoia na segurança e na cumplicidade. A paixão busca a presença do outro a qualquer custo, quase como uma necessidade vital. O amor, ao contrário, oferece liberdade e espaço para o crescimento individual dentro da relação. Ele não é dependente, mas sim complementar — quer ver o outro feliz, mesmo que isso nem sempre signifique estar junto o tempo todo.

Em termos emocionais, a paixão pode provocar uma perda momentânea da noção de realidade. É comum que, nesse estágio, a pessoa aja de forma impulsiva, guiada mais pelo desejo do que pela razão. O amor, por sua vez, traz estabilidade e equilíbrio: é o sentimento que preserva, acolhe e promove o bem-estar. É o que permite o diálogo nas crises, o perdão nos conflitos e a parceria nos desafios da vida cotidiana.

É importante destacar que paixão e amor não são opostos nem mutuamente exclusivos. Pelo contrário, podem coexistir e se complementar. Muitos relacionamentos começam pela paixão e, com o tempo, evoluem para o amor. E o amor, quando bem cultivado, pode manter viva uma dose saudável de paixão, renovando o desejo e a admiração pelo outro.

O ideal, portanto, é encontrar o equilíbrio entre o fogo da paixão e a constância do amor. A paixão nos faz sentir vivos, impulsiona e desperta o encantamento. O amor nos ensina a permanecer, a cuidar e a construir algo duradouro. Quando esses dois sentimentos se encontram, nascem relações mais autênticas, maduras e completas — capazes de atravessar o tempo com intensidade, ternura e verdade.


Artigo por: Luciene Costa é Psicóloga clínica, pós-graduada em Psicanálise, jornalista e especialista em bem-estar e qualidade de vida.
@luciene_costa_57  –  @revistaekletica

 

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