Nos idos de 2018 o governo da República Tcheca anunciou um projeto para recuperar, através da construção de algumas barragens, certas áreas do Parque Natural de Brdy. Iniciou-se, imediatamente, o processo burocrático para obtenção das autorizações necessárias para que a administração desse início às obras, calculadas em mais de um milhão de Euros.
O problema é que os anos se passavam e nada saía do tenebroso mundo da burocracia – nem um “sim”, nem um “não”. Chegou-se a 2024 – e nada!
Eis que apareceu no local uma família de castores. Os roedores imediatamente perceberam qual o problema do local e deram início à construção das barragens necessárias – que concluíram em apenas 48 horas.
Após encerradas, as obras foram devidamente “fiscalizadas” por ambientalistas. A conclusão: “as barragens foram construídas nos locais certos e ajudarão a restaurar as zonas úmidas ao seu estado natural, proporcionando um habitat adequado para lagostins, rãs e outros animais selvagens”.
Pois é. O gênio humano, ao longo de mais de seis anos de esforços intensos, não logrou vencer a burocracia. E lá está, construída por castores, uma obra perfeita. Estarão eles a gargalhar da sapiência da humanidade?
Agora levante-se. Vá à janela. Contemple, com olhos de ver, o nosso país. Perceba que sob as condições atuais já não nos seria possível construir o Cristo Redentor, um cartão postal do Brasil – sucumbiríamos diante da burocracia. Assim também com o Convento da Penha, a Ponte Rio-Niterói, Itaipu, o Elevador Lacerda etc. Cidades como o Rio de Janeiro, Vitória e muitas outras, beneficiadas com aterros vários, seriam menores e piores.
Examine, a partir de um ponto de vista mais distante, nosso mundo das leis. Belo e complexo a ponto de preencher bibliotecas inteiras, simplesmente massacra o Brasil com sua ineficiência. Em clara falência, somente consegue manter-se graças ao engodo da virtualização da burocracia, digo, à criação de procedimentos digitais.
Não sou, e fique isto muito claro, a favor da desregulamentação geral. Absolutamente. Apenas o que defendo é o advento de sistemas legais compatíveis com este início de milênio – que, dizendo motivadamente “sim” ou não”, poupem à realidade a incerteza.
Não, a vida não pode parar à espera da sanha dos burocratas – os castores que o digam!
Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no Espírito Santo