Artigo

ARTIGO – O Náufrago

Isolado em uma ilha, o náufrago pousava seu corpo cheio de marcas profundas causadas pelas palavras e frases na confusão do texto de sua vida. As areias finas e brancas e o horizonte se fundiam às letras e palavras construídas no isolamento do conhecimento e do coração.
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Com a tarefa diária e interminável de decifrar fragmentos de histórias e significados perdidos, como um autor tentando reconstruir o enredo desfeito do conto da sua vida.
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Perdera o nome entre as páginas rasgadas do tempo, vagava pela ilha em busca de sinônimos e conjunções. Sentia-se aprisionado em um mar de significados obscuros, onde os predicados traziam consigo uma carga emocional completamente incompreensível. Ondas de frases ofensivas e duras o golpeavam continuamente, deixando-o exausto, cheio de palavras espalhadas e adjuntos desorientados.
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Desesperado, apanhou uma garrafa vazia, um eco de algum outro ser perdido na ilha das letrinhas. Decidido, organizou as letras em uma mensagem de socorro, tentando alcançar alguém que pudesse entender sua sentença sem contexto. Com os dedos trêmulos, revelaram-se declarações de desespero e esperança, selou a garrafa lançando-a ao mar.
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A maré revolta de letras era implacável. A garrafa foi rapidamente engolida pelas ondas de palavras, expressões, vírgulas e interrogações, desaparecendo entre as sílabas e verbos que dançavam e se contorciam antes de se dissolverem entre os corais da solidão.
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Ondas enormes, compostas de frases fortes como “desafios intransponíveis”, “conflitos internos” e “medos antigos”, quebravam sobre a sua realidade, impedindo de se lançar ao desafio de sair da ilha. Frustradas as tentativas por um redemoinho de sinais diacríticos, dúvidas e temores.
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Sombras escorridas marcavam o tempo, e a solidão do vazio do pensamento se tornou sua única companhia. Porém, um dia, juntando pedaços de madeira da coragem que encontrara em seus momentos de reflexão e impulsividade, decidiu escrever uma balsa.
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Amarrando as tábuas com frases das poesias que ainda restavam das cordas dos amores vividos, criou uma embarcação simples, mas com exclamações fortes, o suficiente para desafiá-lo a sair da prisão literária da sua história.
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Com a balsa devidamente escrita e amarrada com as longas frases, se lançou ao mar. As ondas de palavras desafiadoras o atacavam sem piedade. Lutou contra sentenças de “fracasso iminente”, “rejeição constante” e “dúvidas cruéis”. Ondas enormes e agressivas quebravam sobre o seu corpo, deixando palavras e letras espalhadas e escorridas pela já frágil balsa.

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Cada frase parecia querer puxá-lo de volta para a ilha do isolamento, mas segurando uma corda escrita fortemente com o significado confiança, insistiu bravamente. Usou a força das suas convicções e a tenacidade de quem busca a o sinônimo liberdade para seguir adiante.
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Com letras e frases espirradas na batalha árdua, a balsa das amarras da coragem rangia sob o peso dos parágrafos densos, e a tempestade de interrogações ameaçavam ao naufrágio.
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Após dias de textos revoltos e incessantes, as ondas de letras e acentos misturados começaram a se organizar. As frases agressivas se reorganizaram e formaram o conteúdo de compreensão e aceitação.
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O mar se transformou em uma superfície de adjetivos tranquilos e serenos, onde flutuavam conceitos de “conhecimento”, “amor” e “sabedoria”.
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Finalmente, o náufrago avistou um novo capítulo em terra, uma costa onde os termos como o entendimento e a conexão humana organizavam-se harmonicamente.
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Aliviado, seguro pelo terreno firme do conhecimento, sentiu-se aliviado, onde poderia reescrever sua vida. Havia encontrado um enredo de palavras, onde os significados se entrelaçavam para formar um mundo de versos livres e compreensivos.
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E assim, o náufrago isolado tornou-se um navegante do saber, compreendendo que, às vezes, é preciso reorganizar a história das ondas da vida para escrever as verdadeiras frases da poesia, da paz e do amor.

 

Juba Paixão – Jornalista, publicitário e empresário de comunicação institucional – detentor da Cruz do Mérito da Comunicação, categoria Comendador, pela Câmara Brasileira de Cultura.

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