O Carnaval é uma grande festa popular, vivenciada na alma do povo, revelando profundos sentimentos. As músicas de Carnaval e os sambas de enredo das escolas de samba, elaborados por verdadeiros poetas, são reconhecidos e exaltados. A criatividade e o romantismo, transformam a melodia em expressão popular de alegria, amor e devaneio espiritual. Carnaval tem raízes psicológicas, sociais e culturais. Período em que o povo exprime emoções, incentiva fantasias, extravasa sentimentos de felicidade. Através das músicas revela alegria, felicidade e sonhos.
Por muito tempo visto como espaço livre de tensões, o Carnaval, em suas variadas formas, é compreendido atualmente como um eixo importante de articulações e diálogos entre múltiplas áreas do saber. Tradicionalmente relacionadas com as manifestações populares, as festas carnavalescas possuem dinâmicas que ultrapassam limitações conceituais e se apresentam como lugares privilegiados para a compreensão e discussão de importantes questões de contemporaneidade.
O Carnaval pode e deve ser compreendido como expressão da cultura popular em seu significado mais atual. Não a cultura “feita pelo povo”, ou a cultura “feita para o povo”, mas a cultura que se estabelece dinamicamente além das institucionalizações. Uma cultura que consome e se oferece ao consumo e que, neste movimento, produz práticas que estabelecem continuamente, perguntas, desejos e respostas. Assumindo novas formas, preenchendo vazios, invadindo espaços, reinventando constantemente novos significados para antigas tradições, ou novas tradições para antigos significados.
Após a colonização, o Carnaval brasileiro tornou-se independente dos festejos de sabor africano e dos bailes de máscaras realizados na Europa pelos portugueses, de onde teria se originado. O Carnaval brasileiro adquiriu personalidade como cultura do seu povo. Vieram os sambas, as marchas e os frevos, ensaiando e divulgando o comportamento, e os sentimentos da população.
Temos verdadeiros monstros sagrados da música popular brasileira, Zé Keti fez um poema dificilmente igualado: “Tanto riso, Oh! quanta alegria, (…) Vou beijar-te agora, não me leve a mal, hoje é Carnaval”. Benedito Lacerda e Mario Lago com pérolas do maior significado afetivo: “Oh jardineira, por que estais tão triste?”. E, “Se você fosse sincera, Aurora”.
Vivamos o nosso Carnaval. Comecemos pelo capixaba, afinal o carnaval do Brasil começou aqui no último dia 21 desse mês com os desfiles das nossas escolas de samba do Grupo A, no Sambão do Povo, com tudo que temos direito. Em Vitória, a cidade abre alas para as alegorias, o samba e toda agitação das agremiações no Sambão do Povo. A folia não é apenas um espetáculo cultural, mas serve como motor para a economia local, beneficiando setores como hotelaria, gastronomia, transporte e costura, além de elevar a autoestima da população.
Escrevi esse artigo logo após a divulgação do resultado do desfile do Grupo Especial, onde o meu coração muguiano bateu muito forte, nota a nota, pois faço parte da Velha Guarda da MUG, Mocidade Unida da Glória, bairro de Vila Velha, onde vivi os meus primeiros 30 anos de vida. Todos nós da MUG temos a certeza da realização de um grande desfile, contamos e cantamos o nosso enredo “O Guerreiro da Capa Encarnada – Jorge do Povo Brasileiro”, uma linda e reflexiva homenagem ao São Jorge, o Santo Guerreiro, mas a decisão está dada e ficamos com a honrosa 3ª colocação. Parabenizamos a “Chegou o que Faltava” pelo 2º lugar e a grande campeã a “Boa Vista”, de Cariacica; em mais uma decisão com diferença de poucos décimos na pontuação das três primeiras colocadas, mostrando o alto nível dos desfiles das grandes escolas de samba capixabas. Parabéns a todas às agremiações.
Então, querido (a) leitor(a), esteja ou seja você, animado ou não neste Carnaval, não deixe que aquilo que não tem a mínima importância o impressione, choque, tire seu alto astral ou o deixe perplexo e irritado. A folia, a alegria, as purpurinas, a bunda, a diversidade, o peito, o brilho, o beijo, a celulite, a beleza, a feiura, o remelexo e a liberdade alheia não têm o poder de ofendê-lo. Não é pouca vergonha e nada tem a ver com política. Até porque, aí, o problema não está na imagem forte, agressiva, faceira, colorida ou abusada. Feio é sambar em cima do sofrimento alheio, não respeitar o “não” das meninas, afinal não é não! E assédio é crime. O resto, meu caro leitor, é só Carnaval. Então muito riso e muita alegria!
Manoel Goes Neto, produtor cultural, escritor e membro do IHGES