Nunca tivemos tanto acesso à informação. Nunca foi tão fácil aprender sobre investimentos, carreira, empreendedorismo, economia global ou planejamento financeiro. Ainda assim, vivemos um paradoxo incômodo, a geração mais conectada da história também é a mais insegura financeiramente.
O problema não é a ausência de educação financeira, mas a ilusão de que informação, por si só, gera maturidade. Saber conceitos não é o mesmo que saber decidir. Ler sobre investimentos não significa ter estrutura emocional para lidar com volatilidade. Assistir a vídeos sobre enriquecimento não prepara ninguém para o tédio, a disciplina e o silêncio que o longo prazo exige.
Hoje, o investidor médio está hiperestimulado e suborientado. Consome análises, opiniões e previsões em tempo real, mas raramente constrói convicções. Cada nova informação disputa espaço com a anterior, gerando ansiedade, não clareza. A consequência é um comportamento errático, entra atrasado, sai cedo demais e vive com a sensação constante de que está perdendo algo.
A conectividade criou um ambiente de comparação infinita. Sempre existe alguém ganhando mais, acertando mais rápido, parecendo mais inteligente. Isso distorce a percepção de progresso e transforma decisões financeiras em decisões emocionais. Em vez de pensar em estratégia, pensa-se em status. Em vez de planejamento, busca-se validação.
Outro efeito colateral desse excesso de acesso é a terceirização da responsabilidade. Quando tudo está disponível, a culpa nunca é totalmente nossa. Foi o analista, o influenciador, o relatório, o vídeo de quinze segundos. A autonomia, que deveria ser fortalecida pela informação, acaba enfraquecida por ela. É aqui que a educação financeira tradicional falha. Ela ensina produtos, siglas e conceitos, mas pouco fala sobre comportamento, expectativa e frustração. Pouco prepara para o desconforto de ver decisões corretas parecerem erradas no curto prazo. Pouco discute que investir bem é, muitas vezes, não fazer nada, e sustentar isso com maturidade.
Organização financeira não começa em planilhas. Começa em critérios. Começa em saber o que ignorar. Em entender que não reagir também é uma decisão. Que nem toda oportunidade precisa ser aproveitada e nem toda movimentação gera valor.
Talvez o verdadeiro diferencial da próxima geração financeiramente saudável não seja quem tem mais acesso à informação, mas quem aprende a filtrar melhor. Quem entende que clareza vale mais do que velocidade. Que orientação vale mais do que opinião. E que, em um mundo barulhento, saber silenciar fontes é uma forma avançada de inteligência.
José Neto Rossini Torres – Sócio, Gestor Comercial e Assessor de Investimentos Alta Renda da Forttu Investimentos; Advogado; Autor dos livros: “Investe Logo: Compartilhando experiências com o investidor iniciante” e “O Caminho para o sucesso na Assessoria de Investimentos: Processo, Relacionamento e Intensidade” (Em pré-lançamento).