Por Hilquias Scardua
Na trajetória da vida, sonhamos, idealizamos e criamos expectativas sobre as coisas e as pessoas. É comum e natural que o façamos. No entanto, a vida, com sua infinita gama de possibilidades, nos confronta com sua realidade concreta, surpreendendo-nos diante dos fatos.
A dor e o sofrimento são temas inerentes à condição humana, especialmente durante o processo de luto. Em várias fases da minha vida, recorria a um poema de Fagundes Varela, poeta brasileiro, com o insano intuito de mensurar minha dor. O poema ecoava em minha mente, levando-me a refletir sobre a intensidade do sofrimento descrito pelo autor.
O poema descreve o sofrimento de um pai, de forma magistral, um luto ressentido por perder sua filha subitamente, versos ressoando profundamente em meu ser. No entanto, através dessa expressão artística, encontrava um meio de compreender que todos sofremos, que todos nós somos passíveis de grande dor e perda.
O luto é uma jornada necessária, um período de tempo em que precisamos permitir-nos sentir e processar a dor da perda. No entanto, é crucial cuidar da nossa saúde mental durante esse processo, para que o luto não se transforme em uma depressão patológica. Permitir que as feridas se fechem é impedir que se tornem chagas abertas de feridas contínuas.
O tempo do luto tem prazo, e a vida continua. Devemos nos permitir passar por essa fase, honrando nossos sentimentos, mas também reconhecendo que a vida segue adiante. Nossas cicatrizes fazem parte da jornada, mas alimentar constantemente a dor apenas nos mantém presos ao passado.
É essencial permitir-nos lembrar com alegria dos bons momentos vividos junto aos entes queridos que partiram. A saudade, quando a dor passar, precisa ser tingida de alegria, celebrando as memórias e o amor compartilhados.
Por fim, o luto é um capítulo na história de nossas vidas, uma parte do processo de cura e transformação. Enquanto enfrentamos a dor da perda, também somos convidados a buscar a luz da esperança e da aceitação, permitindo-nos seguir em frente com gratidão pelos momentos preciosos que tivemos a oportunidade de viver.