A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) decidiu não incluir as chamadas “canetas de emagrecimento” na rede pública. A justificativa foi o alto custo do tratamento: cada unidade custa cerca de R$ 1.000, o que poderia gerar uma despesa entre R$ 4 e R$ 6 bilhões ao Ministério da Saúde em um período de cinco anos.
Embora conhecidas popularmente pelo efeito de perda de peso, essas medicações foram desenvolvidas inicialmente para o tratamento do diabetes tipo 2. Estudos posteriores comprovaram benefícios que vão além do controle glicêmico, incluindo melhora na obesidade, proteção cardiovascular, redução do risco de infartos e AVCs, além de efeitos positivos sobre a função renal e hepática.
Atualmente, o SUS já oferece outras alternativas para o tratamento da obesidade, como medicamentos de menor custo e a cirurgia bariátrica — cuja indicação foi ampliada recentemente para incluir pacientes com graus mais leves da doença. Especialistas destacam, no entanto, que nem todos os casos são elegíveis para cirurgia e que os tratamentos medicamentosos e cirúrgicos não são equivalentes, cada qual apresentando riscos, benefícios e critérios específicos.
Outro ponto levantado por médicos é o impacto financeiro da obesidade não tratada. A doença é considerada multifatorial e crônica, responsável por gerar altos custos ao sistema público devido ao aumento de complicações como diabetes, doenças cardiovasculares e problemas renais.
Além da questão financeira, especialistas alertam para o estigma em torno da obesidade. “Durante muito tempo, acreditou-se que bastava ‘fechar a boca e fazer exercícios’. Hoje, sabemos que a obesidade é uma doença complexa, que exige tratamento multidisciplinar e, em muitos casos, o uso de medicação para resultados eficazes e sustentáveis”, afirmou uma endocrinologista ouvida pela reportagem.
Apesar da negativa atual, existe expectativa de que os preços das canetas possam cair a partir de março do próximo ano, quando expira a patente do laboratório que detém a exclusividade de produção. Com a entrada de versões genéricas, a tendência é de que os custos sejam reduzidos, o que pode reabrir o debate sobre sua incorporação no SUS ou em políticas públicas de custeio parcial.
Enquanto isso, especialistas reforçam que a obesidade é uma doença séria e que precisa ser tratada com acompanhamento médico adequado, seja por meio de medicamentos, cirurgia ou mudanças de estilo de vida.