Depois do engano do Narcisismo (1914), por parte de Freud chegamos ao “poder da imagem” como fundamento.
Um tanto quanto erraticamente descobrimos o Avatar (1856) de Theófile Gautier, ficção que trata da troca de espírito (ou troca de imagens), entre duas pessoas.
Fomos descobrir em “Eficácia simbólica” (1949), de Lévi-Strauss, que a parturiente tinha perdido seu purba – a imagem de si mesma – e foi preciso um Xamã para restituí-la.
Um terapeuta restitui a autoimagem.
Estudando Chamisso em “O homem que vendeu sua sombra” (1814), compreendemos que o homem pode vender sua imagem sem a qual ele não vive e precisa recuperá-la.
O livro “Ciranda de pedra” (1954), de Lygia Fagundes Telles, mostra a personagem Laura, casada e com duas filhas, que deslumbrou-se numa aventura amorosa, engravidou, perdeu a família, e enlouqueceu, ficando com sua autoimagem destruída.
Concluiu-se dessas pesquisas que a autoimagem é o fundamento.
Observando um menininho de um ano de idade procurando, por seu próprio esforço, e interesse, pelo corpo que não existe atrás do espelho, experimento que repete insistentemente, a observação leva a concluir que neste encontro primeiro entre corpo e imagem está o momento inaugural da autoimagem.
Com um ano de idade a criatura humana necessita encontrar sua autoimagem, sua sombra, seu purba, seu espírito, sua alma, a ideia de si, seu eu imaginário, o elemento imaterial a partir do qual nomeia o mundo.
O mundo é nomeado a partir de um espírito imaginário interior.
Localizamos, assim, o Eu imaginário como base para o futuro pronome pessoal do caso reto, quando a criança diz o Eu na linguagem.
Binet elaborou um teste psicológico em que pergunta a um menino com três anos de idade “quantos irmãos você tem”, por ter escutado dos pais “eles são três irmãos”, o menino responde “Tenho três irmãos, Paulo, Ernesto e Eu”, incluindo-se como irmão de si mesmo.
Seu “Eu” ainda não está separado dos demais.
O Eu verdadeiro somente é conquistado quando a autoimagem consegue viver totalmente separada das demais autoimagens.
No autismo sem fala a autoimagem da criança está no interior da autoimagem da mãe.
O autista sem fala vive sem autoimagem, e somente dará início à saída dessa situação caso conquiste, por si próprio, sua autoimagem.
Adelmo Rossi: Adelmo Marcos Rossi é engenheiro civil, psicólogo e autor com experiência acadêmica e prática em psicologia e filosofia. Seu livro mais recente, “O Imortal Machado de Assis – Autor de si mesmo”, está disponível na Amazon e através das redes sociais do autor.