A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o uso do medicamento Mounjaro (tirzepatida) para o tratamento da apneia obstrutiva do sono em adultos com obesidade. O anúncio, feito nesta segunda-feira (20), representa um marco na abordagem de um dos distúrbios do sono mais comuns e potencialmente graves, que afeta milhões de brasileiros.
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A tirzepatida, já utilizada no tratamento do diabetes tipo 2 e no controle do peso, passa a ser a primeira medicação aprovada no Brasil com indicação específica para apneia do sono associada à obesidade. A decisão acompanha o movimento de agências internacionais, como o FDA (Food and Drug Administration), órgão regulador dos Estados Unidos, que também liberou o uso da substância para essa finalidade em 2024.
Segundo a médica especialista em Medicina do Sono e vice-presidente da Academia Brasileira do Sono (ABS), Jessica Polese, estudos recentes confirmam o potencial terapêutico da tirzepatida para esses pacientes. “Uma pesquisa publicada em 2024 na revista científica New England Journal of Medicine demonstrou que a substância reduziu significativamente o número de interrupções respiratórias durante o sono, o que pode melhorar a qualidade de vida de pessoas afetadas pela apneia do sono”, destacou.
Para a médica, a aprovação da Anvisa representa um avanço importante, sobretudo porque a obesidade é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento e agravamento da apneia. “A tirzepatida não atua diretamente nas vias respiratórias, mas, ao promover perda de peso significativa, reduz a compressão sobre as vias aéreas e melhora a oxigenação noturna. Isso pode diminuir a gravidade da apneia e melhorar a qualidade do sono”, explica Jessica.
Apesar dos resultados promissores, a especialista alerta que o medicamento não substitui o CPAP — aparelho de pressão positiva contínua usado para manter as vias respiratórias abertas — nem outras abordagens terapêuticas tradicionais. “É preciso cautela. O tratamento deve levar em conta o grau da apneia, a presença de outras doenças metabólicas, a tolerância ao CPAP e o perfil de cada paciente. A tirzepatida é uma ferramenta complementar, e não uma solução isolada”, reforça.