Quando duas pessoas se conhecem na maturidade, trazem consigo histórias cheias de alegrias, decepções e uma convivência já íntima com a solidão. Depois de anos de experiências e aprendizados, a possibilidade de um novo amor pode despertar tanto esperança quanto medo, medo de se abrir, de perder a estabilidade conquistada e, sobretudo, de sofrer novamente. Na psicologia, esse receio é compreendido como um mecanismo de autoproteção emocional, fruto das vivências acumuladas e das defesas que se formam ao longo da vida.
Na maturidade, o indivíduo tende a valorizar sua autonomia, sua rotina e a paz interior construída após tantas batalhas. Amar novamente implica mudanças, compartilhar tempo, espaço e sentimentos, e isso pode ser visto como uma ameaça à segurança conquistada. Muitos já se habituaram à própria companhia e ao controle sobre o que sentem; por isso, um novo vínculo amoroso pode parecer arriscado, por exigir vulnerabilidade e entrega.
As experiências de perdas e decepções anteriores também pesam. Quem já sofreu com rejeição, abandono ou traição tende a associar o amor à dor. Assim, inconscientemente, cria-se uma barreira emocional para evitar repetir o sofrimento. Esse medo pode se manifestar em atitudes sutis: demora em se comprometer, dificuldade de demonstrar afeto, comparações constantes com o passado ou até mesmo a autossabotagem, quando a pessoa se afasta justamente no momento em que a relação começa a dar certo.
Outro fator importante é o medo da mudança. Na fase adulta, a identidade está mais consolidada, “eu sou assim”, “meu jeito é esse”, e qualquer envolvimento profundo desafia essa estrutura. O amor, por sua natureza transformadora, convida à flexibilidade, ao diálogo e ao redescobrimento de si. E nem todos estão prontos para abrir mão do controle que a maturidade trouxe.
Do ponto de vista terapêutico, reconhecer o medo já é o primeiro passo para superá-lo. Não se trata de ausência de amor, mas de um movimento de autopreservação. Ao compreender suas origens, é possível acolher essa emoção e avançar de modo mais consciente. A psicoterapia pode ajudar a reformular crenças limitantes, como “já é tarde demais para amar” ou “não quero mais me decepcionar”, transformando o medo em prudência saudável e não em barreira.
Amar na maturidade exige coragem, não a coragem juvenil da aventura, mas a coragem serena de quem já sabe o valor da entrega e os riscos que ela envolve. O amor maduro não busca completude nem salvação; busca companhia, troca, respeito e liberdade. E quando duas pessoas, mesmo com cicatrizes e reservas, se permitem viver esse encontro, o que nasce é um afeto mais consciente, sincero e real.
No fim, o medo de amar na maturidade não precisa ser um obstáculo, mas um lembrete: amar é sempre um ato de coragem, em qualquer idade.
Luciene Costa é psicóloga clínica, pós-graduada em Psicanálise, jornalista e especialista em bem-estar e qualidade de vida.@luciene_costa_57 – @revistaekletica