Saúde

Silêncio que grita: o suicídio na adolescência

Um estudo recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) trouxe à tona um dado alarmante: entre 2000 e 2022, o risco de suicídio entre adolescentes de 10 a 19 anos se tornou 21% maior do que entre jovens adultos. Nesse intervalo, a taxa de suicídio nessa faixa etária aumentou 120%, alcançando 4,62 mortes por 100 mil jovens em 2022. Entre meninas de 10 a 14 anos, o cenário é ainda mais grave: o crescimento foi de 176%.

Esses números revelam uma crise silenciosa que se intensificou com a pandemia da Covid-19, marcada pelo isolamento social, pelas incertezas e pela sobrecarga emocional vivida por crianças e adolescentes.

Segundo a psicóloga e psicanalista Mariana Weigert de Azevedo, compreender o sofrimento adolescente exige uma escuta atenta e sem julgamentos.

“O suicídio nunca surge do nada. Ele é resultado de um acúmulo de angústias, experiências traumáticas e sentimentos de solidão. Muitas vezes, o jovem não quer exatamente morrer, mas sim acabar com uma dor que parece insuportável e que ele não consegue expressar”, explica.

Na adolescência, mudanças físicas e emocionais se somam a pressões sociais e escolares, além da influência das redes sociais, que podem potencializar sentimentos de inadequação e solidão. Sem apoio adequado, esses fatores tornam-se gatilhos para comportamentos de risco.

Sinais de alerta que pedem atenção imediata

Especialistas alertam que nem todo comportamento pode ser encarado como uma simples “fase da adolescência”. Alguns sinais indicam sofrimento intenso e necessidade de intervenção profissional:

  • Mudanças bruscas no humor ou na personalidade;

  • Isolamento repentino de amigos e familiares;

  • Queda significativa no rendimento escolar ou perda de interesse em atividades antes prazerosas;

  • Comentários sobre morte, autodestruição ou frases como “queria desaparecer”;

  • Alterações no sono e no apetite;

  • Automutilação ou marcas inexplicáveis no corpo;

  • Descuido extremo com a aparência ou higiene.

“Pais, cuidadores e professores devem estar atentos a esses sinais. O acolhimento precoce pode salvar vidas”, reforça Mariana.

O estudo da Fiocruz reforça a urgência de políticas públicas voltadas para saúde mental, além da necessidade de fortalecer redes de apoio familiar e escolar. O suicídio na adolescência é um problema complexo, mas prevenível quando existe diálogo aberto, acompanhamento psicológico e acesso a cuidados especializados.

Se você ou alguém que você conhece apresenta sinais de sofrimento emocional, procure ajuda profissional. O CVV – Centro de Valorização da Vida atende gratuitamente pelo telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br, 24 horas por dia.

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