TARIFA DOS EUA AMEAÇA SETOR DE ROCHAS NO BRASIL E GERA ALERTA NO MERCADO DA CONSTRUÇÃO NORTE-AMERICANO
A imposição de uma tarifa adicional de 50% sobre produtos brasileiros pelo governo dos Estados Unidos acendeu um alerta vermelho no setor de rochas ornamentais do Brasil e na cadeia da construção civil norte-americana. Desde o anúncio da medida, no último dia 9 de julho, a Associação Brasileira de Rochas Naturais (Centrorochas) intensificou a mobilização com autoridades nacionais e internacionais, buscando medidas urgentes para mitigar os impactos econômicos que já começam a ser sentidos.
A estimativa é preocupante: até o fim de julho, cerca de 1.200 contêineres de rochas naturais brasileiras deixarão de ser embarcados aos EUA. Só o Espírito Santo, principal estado exportador do setor, pode registrar uma redução de 1.140 contêineres, o que representaria uma perda de aproximadamente US$ 38 milhões nas exportações capixabas e US$ 40 milhões nas brasileiras.
Segundo a Centrorochas, cerca de 60% dos embarques ao mercado norte-americano foram suspensos desde o anúncio da nova tarifa, impactando diretamente um dos principais setores da balança comercial brasileira. A gravidade da medida também ecoa do outro lado da fronteira.
O Natural Stone Institute (NSI), organização norte-americana parceira da Centrorochas, expressou preocupação semelhante. Em comunicado recente, o CEO do instituto, Jim Hieb, destacou que a medida compromete diretamente a indústria da construção dos EUA. Entre os dados apresentados:
- 85% da pedra natural utilizada nos EUA é importada;
- O Brasil é o maior fornecedor (22,6%), seguido pela Itália (19,1%);
- A maioria das bancadas e superfícies utilizadas nos lares norte-americanos são de origem brasileira;
- A indústria local não tem capacidade para suprir essa demanda;
- Mais de 12 mil fabricantes, 500 distribuidores e cerca de 200 mil empregos podem ser afetados.
Frente a esse cenário, o NSI, em conjunto com a National Association of Home Builders (NAHB), articula um pedido formal de adiamento de 90 dias da implementação da tarifa, prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto.
No Brasil, a Centrorochas vem mantendo uma agenda ativa com autoridades federais. No último dia 15 de julho, a entidade participou da primeira reunião do Comitê Interministerial de Negociação e Contramedidas Econômicas e Comerciais, liderado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, em Brasília. A presença da Centrorochas foi articulada pelo Governo do Espírito Santo, dada a importância estratégica do estado para o setor.
Na ocasião, a associação alertou que, apesar de considerar a diversificação de mercados uma estratégia válida, ela não é viável no curto prazo devido às especificidades técnicas dos materiais exportados para os EUA — como a espessura das chapas, que não encontra demanda em outros países em igual volume. A entidade reforçou que o foco agora deve ser a negociação bilateral para prorrogar o início da tarifa e preservar o fluxo comercial já estabelecido.
A Centrorochas também mantém diálogo constante com a ApexBrasil, parceira no projeto setorial It’s Natural – Brazilian Natural Stone, e está pronta para participar de futuras rodadas de negociação com autoridades norte-americanas. Paralelamente, a entidade continua sua agenda de internacionalização, com ações recentes nos Emirados Árabes Unidos, e estudos de mercado em México, Polônia e Austrália — países com alto potencial para ampliar a demanda por rochas brasileiras.
O setor de rochas naturais responde por cerca de 480 mil empregos diretos e indiretos no Brasil. Em 2024, as exportações somaram US$ 1,26 bilhão, com crescimento de 12,7% em relação ao ano anterior. Os EUA foram responsáveis por 56,3% desse total.
Já no primeiro semestre de 2025, as vendas para os Estados Unidos atingiram um recorde histórico de US$ 426 milhões, representando uma alta de 24,6% frente ao mesmo período de 2024. Esse desempenho reforça a importância estratégica do mercado norte-americano para o setor.
Com sede no Espírito Santo, a Centrorochas representa mais de 230 empresas exportadoras brasileiras de forma institucional e associativa. Além da forte articulação no Brasil, a entidade mantém interlocução com instituições internacionais, como a Confindustria Marmomacchine (Itália), Assimagra (Portugal), IMMIB (Turquia) e o próprio Natural Stone Institute (EUA).
Em nota oficial, a associação reafirma seu compromisso com a defesa da competitividade, previsibilidade e presença internacional das rochas naturais brasileiras:
“Seguiremos atuando incansavelmente para proteger um setor que gera empregos, movimenta a economia e carrega o nome do Brasil para o mundo.”