Economia

Espírito Santo reage com cautela à ameaça de tarifa de 50% dos EUA sobre produtos brasileiros

O governo do Espírito Santo adotou um tom de preocupação e cautela diante da ameaça do governo americano de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos, decisão anunciada pelo ex-presidente Donald Trump como parte de sua agenda política. Em coletiva de imprensa no Palácio Anchieta nesta quinta-feira, o governador Renato Casagrande, o vice-governador Ricardo Ferraço e o secretário de Desenvolvimento, Sérgio Vidigal, apresentaram a análise do Executivo capixaba sobre os possíveis impactos e defenderam diálogo e paciência como estratégia principal.

Segundo Casagrande, a decisão anunciada por Trump não tem fundamento técnico ou econômico, mas é claramente política e ideológica — algo que, para ele, inaugura um precedente perigoso nas relações comerciais internacionais.

“É uma decisão inaceitável, sem base em qualquer bom senso ou debate diplomático. Pela primeira vez vemos surgir uma tarifa ideológica, motivada por razões políticas. O Brasil precisa reagir com firmeza para defender a sua soberania, mas também com cautela para não cair em uma guerra tarifária que nos prejudicaria ainda mais”, declarou.

O governador disse que a estratégia sugerida ao governo federal é evitar reações precipitadas no curto prazo.

“Não podemos entrar num duelo em que um lado saca uma tarifa e o outro responde com outra. Temos que contar até dez, ouvir muito o setor produtivo, porque quem mais sofre com isso é o trabalhador brasileiro.”

Casagrande reforçou que o Espírito Santo será diretamente impactado caso a tarifa seja mantida. Os EUA são destino de quase 30% das exportações capixabas, com destaque para aço, pedras ornamentais, café e petróleo cru. Ele lembrou que uma sobretaxa prejudicaria esses setores, podendo reduzir mercados, afetar a arrecadação estadual e diminuir o ânimo para novos investimentos.

“Já conversei com lideranças empresariais. Ainda não está claro se essa tarifa de 50% seria adicional sobre as tarifas atuais, o que agravaria muito o problema. Precisamos de respostas e de negociação urgente.”

Sobre a possibilidade de diversificar mercados a médio e longo prazo, Casagrande destacou a criação do Investe ES, agência estadual para atração de investimentos e promoção de comércio exterior.

“Já estamos trabalhando para ampliar mercados, reduzir a dependência de um só país. Mas isso não se resolve de um dia para o outro.”

Questionado sobre narrativas políticas em torno do tema — com parte da oposição culpando a aproximação do Brasil com o BRICS e outras economias, e outro lado associando a tarifa a alianças de Bolsonaro com Trump — o governador pregou equilíbrio:

“O Brasil é um país soberano. Tem direito de se relacionar com quem quiser, desde que respeite as regras democráticas e os interesses nacionais. Não podemos aceitar uma punição comercial porque temos opiniões políticas próprias.”

Ele também se comprometeu a levar o tema ao presidente Lula, cuja vinda ao Estado estava confirmada, mas poderia mudar em função do ambiente político.

“Se ele vier, vou tratar desse assunto com ele. Vou pedir atenção especial, porque é uma questão muito séria para a economia do Espírito Santo.”

Já o secretário de Desenvolvimento, Sérgio Vidigal, disse que o governo estadual está acompanhando de perto e conversando com o setor produtivo para avaliar o impacto real, lembrando que muitos contratos de exportação já estão fechados para os próximos meses.

“É cedo para mensurar a intensidade dos efeitos. Precisamos entender como o governo federal e o americano vão se posicionar. No curto prazo, o risco existe, mas o mercado também tende a se ajustar.”

Vidigal citou a importância dos quatro principais produtos de exportação capixaba — café, petróleo, pedras ornamentais e aço — e disse que qualquer restrição ao acesso ao mercado americano afeta diretamente o PIB estadual.

“Nosso objetivo agora é manter o diálogo, evitar alarmismo antes de ter clareza dos números, e colaborar com o governo federal, que lidera essa diplomacia.”

O secretário também criticou o viés ideológico da medida americana e reagiu às acusações de que a culpa seria do governo federal por ter se aproximado de países do BRICS.

“Quem diz ser patriota e defende uma medida que prejudica o Brasil está, na verdade, fazendo o contrário. Quem realmente gosta do país não incentiva esse tipo de ação.”

Por fim, Vidigal apontou que não há solução imediata e que o Estado precisa se manter vigilante.

“Os impactos iniciais podem ser negativos, mas há possibilidade de recuperação se houver negociação. O Espírito Santo vai continuar trabalhando para proteger sua economia e seus trabalhadores.”

Foto: Rodrigo Zaca /- Governo ES

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