Reflexões sobre a Vida Cotidiana e a Busca por Sentido
Quem está cheio de crianças, ou de visitas, tem aquele que corre-corre dentro de casa, tem que gostar dos presentes, ter a casa arrumada, obriga a uma certa polidez, e isso ajuda a prolongar o tempo e passar a agonia da vida sem nenhum momento para sentar e ler um livro, ‘você está sentado aí, venha juntar-se a nós’, agir assim, afastando-se, seria egoísmo , desconsideração, abandono, falta de vida social, é necessário levantar-se, envolver-se com os presentes, atendê-las, e desse modo esconder o famoso buraco existencial, a angústia escondida que aparecerá ao final. Quem não tem criança ao redor, nem adultos, nem visitas, ninguém para tomar a atenção, tem, então, todo o tempo do mundo para estudar, pesquisar, investigar a condição humana, instruir-se no direcionamento de sua vida, e desse modo preencher seu vazio, sentindo, no entanto, falta da presença de crianças do corre-corre para a piscina, de levar para o cinema, para uma loja, o shopping, sair para um restaurante. Seja como for, fazendo qualquer coisa, sempre faltará o contrário. Os vendedores de picolé pelas ruas, ou mesmo os andares, os mendigos, que viraram as costas para o mundo, todos, estamos pacientemente aguardando a chegada da morte. A vida é a mesma boa para todos. Todo ano a repetição das mesmas coisas. Apenas nos livros podemos encontrar novidades em um tempo muito esquecido.
Adelmo Rossi: Adelmo Marcos Rossi é engenheiro civil, psicólogo e autor com experiência acadêmica e prática em psicologia e filosofia. Seu livro mais recente, “O Imortal Machado de Assis – Autor de si mesmo”, está disponível na Amazon e através das redes sociais do autor.
