A persistente defasagem de três décadas na redução da mortalidade por câncer de mama no Brasil, comparado a países desenvolvidos, instiga esforços no enfrentamento dessa doença, que atualmente concentra 40% dos casos no país entre mulheres com menos de 50 anos. As recém-estabelecidas diretrizes de 2023 pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), em parceria com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e Colégio Brasileiro de Radiologia, propõem um rastreamento a partir dos 40 anos, com protocolos individualizados considerando perfil, idade e necessidades de tratamento de cada paciente.
“Essas diretrizes visam superar recomendações vigentes desde 2017,” destaca o Dr. Henrique Lima Couto, coordenador do Departamento de Imagem da Mama da SBM. As atualizações buscam enfrentar o “rejuvenescimento” do câncer de mama no Brasil, já que o rastreamento atual a partir dos 50 anos pode resultar em diagnósticos tardios para mulheres de 40 a 49 anos, responsáveis por 40% dos casos no país.
Apesar dos 6.334 aparelhos de mamografia no Brasil serem suficientes para atender a população-alvo, o Sistema Único de Saúde (SUS) utiliza apenas 30% deles. “Há uma subutilização de equipamentos que poderiam ser usados para investigar outros grupos de mulheres, incluindo as mais jovens,” observa o Dr. Ruffo Freitas-Junior, assessor especial da SBM.
No Congresso Brasileiro de Mastologia, os especialistas destacam a importância de protocolos personalizados e o uso de tecnologias avançadas, como a tomossíntese ou mamografia 3D, para um diagnóstico mais preciso. O Dr. Freitas-Junior enfatiza a necessidade de exames de detecção de mutação genética em pacientes com histórico familiar, e ressonância magnética como complemento da mamografia em casos de maior risco.
Ressaltando a relevância do tratamento individualizado, os especialistas concordam que recursos abrangentes para o rastreamento do câncer, incluindo mamografia e tomossíntese, são cruciais. “Mulheres que fazem mamografia morrem menos de câncer de mama, e a doença tem menor impacto com tratamentos menos agressivos e onerosos,” conclui o Dr. Lima Couto, destacando a importância de considerar a idade e a saúde geral da paciente na abordagem do tratamento.