Saúde

De janeiro a janeiro: saúde mental deve ser pauta durante o ano inteiro

Sempre marcado por manifestações midiáticas e rodas de conversa que ressaltam a importância da saúde mental, o Setembro Amarelo chegou ao fim. No entanto, as campanhas a favor do bem-estar psicológico devem continuar sendo pauta durante o ano inteiro, principalmente no ambiente corporativo, que tem um grande impacto na nossa vida. Inclusive, o burnout, síndrome de esgotamento profissional, ganhou destaque nas discussões durante e após a pandemia.

Uma pesquisa realizada pela Pulses, no último ano, revelou que 81% dos trabalhadores estão se sentindo esgotados no trabalho, enquanto 60% apontaram a falta de disposição para trabalhar. Além disso, 67% dos colaboradores entrevistados disseram sentir que precisam provar seu valor no emprego, dados esses que mostram profissionais adoecidos psicologicamente.

Relações competitivas desequilibradas, sobrecarga de demandas, cultura enfraquecida e lideranças despreparadas estão diretamente relacionadas ao risco ocupacional para a saúde mental dos colaboradores, e os limites saudáveis dessas vertentes precisam estar em debate.

Para Luciana Carvalho, CEO e co-fundadora da Chiefs.Group —  HRtech pioneira em Open Talent Economy no Brasil, que conecta executivos às empresas para trabalharem sob demanda por meio de soluções flexíveis —, o modelo de trabalho centrado nas empresas e a falta de flexibilidade não se conectam mais com o mundo atual.

“O molde de atuação profissional engessado traz prejuízos para todos os envolvidos. Se eu coloco um alto volume de demandas para um time que não tem braços suficientes ou conhecimento para entregar o projeto dentro do prazo, alguém vai precisar extrapolar os horários numa tentativa de garantir a execução. Se não conseguirem e eu passo a não confiar na capacidade da equipe, chegamos no microgerenciamento, o que aumenta a pressão, causando fadiga mental. Um profissional cansado e desmotivado não entrega resultados de qualidade, aumentando o estresse até chegar ao ponto do afastamento. É um círculo vicioso. Ninguém sai ganhando”, elucida a executiva.

E Luciana tem razão. De acordo com o levantamento da Deloitte, 91% dos trabalhadores afirmam que sentimentos de estresse e frustração têm impacto negativo na qualidade de suas entregas. Para a CEO, o futuro do trabalho, que prioriza a saúde mental, está conectado às relações flexíveis, reconhecendo colaboradores por sua postura e comportamento, oferecendo autonomia e meios para a qualificação.

“A liderança continua errando porque não entende que a conservação e escalabilidade do seu negócio está diretamente atrelado à colaboradores saudáveis e motivados. Como líder, eu não quero ser vista como carrasca, não quero que meu time tenha medo de chegar para mim e falar que o filho está doente e por isso ele está com baixo rendimento, por exemplo. Eu sou mãe, esposa, filha… sei como as demandas da Lu pessoa afetam o desempenho da Lu profissional, e vice-versa. A robotização do mundo nos fez esquecer que os humanos não vêm com botão liga-desliga. Precisamos relembrar isso”, comenta.

Nesse contexto, vale ressaltar que a prevenção é o melhor caminho. Em 2021, a terceira maior motivação para afastamento do trabalho no Brasil foram os transtornos mentais, conforme um estudo feito pelo Observatório de Segurança e Saúde do Trabalho. A adoção de boas práticas prevencionistas e acolhedoras afastam esses padrões. “Se acostumar com um único modelo de trabalho é fácil e confortável. Mas gerir uma empresa não pode ser baseada no conforto do conservadorismo. Se não atende às necessidades do negócio e dos trabalhadores, a mudança precisa acontecer para ontem”, finaliza Carvalho.

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