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Após passar por 17 países, espetáculo “Cárcere” volta à Vitória

O ator paulista Vinícius Piedade volta à Vitória para apresentar a peça “Cárcere”, uma reflexão sobre a liberdade através dos olhos de um pianista privado da sua liberdade e de seu piano, neste sábado (12), na Casa da Música Sônia Cabral, às 20h. A montagem, que já passou por 17 países de cinco continentes, tem Saulo Ribeiro como um dos autores, surgiu depois das experiências que o protagonista teve ao apresentar um outro espetáculo solo, Carta de um pirata, em presídios do Espírito Santo.

A peça, que está comemorando 15 anos em cartaz, apresenta uma semana na vida de um pianista que estando no cárcere – privado da liberdade e de seu piano – será refém numa rebelião iminente. Ele vive em ritmo de contagem regressiva e suas expectativas, impressões, lembranças, reflexões e sensações são expressadas por ele num diário que inicia numa segunda-feira e termina quando estoura a rebelião, um domingo.

Depois de tempos tentando viver de sua arte e encontrando imensas dificuldades, acaba topando o convite de um “amigo” que lhe oferece um “bico” de venda de drogas, aproveitando o fato de ele ter contato com tanta gente nos tantos bares onde toca piano.

Estando no cárcere tentando negociar com a direção do presídio a entrada de um piano para ensinar outros presos a tocar, líderes de facções criminosas acham que sua conversa com a direção é na verdade “caguetagem” e acabam jurando-o de morte. A direção da cadeia numa tentativa precária de protegê-lo, coloca-o na ala dos seguros. O problema é que quando tem rebelião na cadeia, quem é candidato natural a refém é justamente quem está nessa ala. Quando começa a surgir um boato de que uma rebelião está na iminência de estourar, ele começa a escrever um diário. É aqui que começa a peça.

Esse pianista apelidado “Ovo” está numa semana decisiva, pois vive nessa situação limite de se tornar refém da tal rebelião.  A peça se passa justamente no período em que ele descobre que será refém, uma segunda-feira, até o dia em que estoura a rebelião, um domingo. Trata-se, então, da teatralização do diário escrito por esse preso na semana em que vive uma espécie de contagem regressiva.

Suas reflexões, lembranças e razões para continuar “se equilibrando na linha tênue entre persistir e desistir”, num momento em que está “na beira do vulcão que está pra entar em erupção, na linha do trem que está vindo, na mira da bala com a arma já engatilhada”, são expressadas por um ator solo no palco, porém, em vibrante contato direto e indireto com o público.

A proposta estética da peça percorre diferentes camadas e linguagens, desde o humor corrosivo de um homem em estado de sítio à momentos essencialmente corporais. “Eu preferia tocar piano e dizer o que tenho pra dizer em ritmo e disritmia, mas como aqui não tem piano eu escrevo, mesmo sem saber fazer poesia”.

As diferentes dinâmicas da proposta dramatúrgica acabam se completando, caracterizando assim a proposta estética do espetáculo, nessa reflexão sobre a liberdade nossa de cada dia. Não se busca explicá-la e sim provocar uma reflexão sobre o que ela é pra cada um. Através de uma linguagem acessível por ser visceral, a peça Cárcere traz à cena diferentes camadas de profundidade que visam proporcionar ao público um mergulho em diferentes perspectivas de ser e estar preso. Ou livre.

Os ingressos para o espetáculo custam R$30 (meia entrada) e estão à venda no Sympla. A produção local é de José Celso Cavalieri.

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