Brasil tenta conter impacto econômico do tarifaço dos EUA e busca diálogo com governo americano
O governo brasileiro intensificou seus esforços diplomáticos para conter os impactos econômicos do novo pacote de tarifas anunciado pelos Estados Unidos, que pode afetar diretamente diversos setores produtivos no Brasil. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicou em suas redes sociais, na noite desta quinta-feira (1º), uma mensagem reafirmando o compromisso com o diálogo e a soberania nacional. “Sempre estivemos abertos ao diálogo. Quem define os rumos do Brasil são os brasileiros e suas instituições”, afirmou.
Desde que o ex-presidente Donald Trump retomou ao comando da Casa Branca e anunciou, no início de julho, um aumento tarifário de até 50% sobre produtos importados, o Brasil passou a buscar alternativas para evitar prejuízos às empresas exportadoras. Apesar de cerca de 700 produtos brasileiros terem sido retirados da lista de sobretaxação, a medida ainda ameaça setores-chave da economia nacional, como o de alimentos, madeira, calçados e metais.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que está em andamento uma agenda de conversas com o secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent. O objetivo, segundo ele, é preparar o terreno para um eventual encontro entre os presidentes dos dois países. “É importante que essa conversa ocorra antes da fala entre os chefes de Estado. Vamos discutir todos os temas, inclusive a conveniência e as condições do tarifaço”, declarou.
Enquanto as negociações avançam nos bastidores, empresas brasileiras começam a sentir os primeiros efeitos do anúncio americano. No Ceará, estado cuja economia é altamente dependente do mercado norte-americano, o impacto é iminente. A cidade de Paraipaba, conhecida pela produção de água de coco, já enfrenta incertezas. Uma das maiores empresas do setor, que emprega 470 funcionários e exportava a maior parte da produção para os EUA, antecipou todos os embarques previstos para julho. Ainda assim, mais da metade da produção segue sem destino definido.
“Se o setor não entrar na lista de isenções, vamos perder cerca de 20 milhões de dólares por ano. Não teremos como evitar férias coletivas e demissões”, afirmou o diretor da empresa.
O mesmo cenário se repete em outros setores e estados. No Paraná, fábricas que processam madeira de reflorestamento já reduziram a produção em 70% e concederam férias coletivas. A indústria madeireira representa 60% da economia de Jaguariaíva, uma das cidades mais afetadas. Segundo estimativas do setor, mais de 400 mil empregos diretos e indiretos podem ser impactados.
“O compromisso da nossa empresa é manter empregos. Essa notícia foi um baque”, disse Diego, proprietário de uma das serrarias da região.
Inicialmente previsto para começar nesta quinta-feira (1º), o tarifaço foi novamente adiado por Trump, que postergou a medida por mais sete dias, agora com início marcado para 6 de agosto. Segundo a Casa Branca, o novo prazo seria necessário para que a alfândega americana ajuste os sistemas de arrecadação.
O decreto de Trump, que estabelece tarifas para quase 70 países e a União Europeia, representa uma ruptura com a lógica de cooperação multilateral construída no pós-guerra. Mesmo países que não apresentam déficit comercial com os Estados Unidos, como o Brasil, foram incluídos entre os mais penalizados — neste caso, por razões políticas, segundo o próprio texto assinado pelo presidente americano, que cita a ação penal contra Jair Bolsonaro como um dos motivadores.
Consultores estimam que a tarifa média dos EUA, antes em 2,3%, salte para mais de 15% com as novas medidas. Steven David Levitt professor de Economia da Universidade de Chicago, classificou o dia como “terrível para os Estados Unidos”. Segundo ele, a medida elevará os preços internos e não terá eficácia em recuperar empregos. “Essa ideia de que tarifas trarão empregos de volta é absurda. Isso é apenas propaganda política”, afirmou.
Enquanto isso, operários em fábricas na Ásia e comerciantes no interior do Brasil compartilham a mesma preocupação: o que fazer diante de uma nova ordem econômica global, guiada por interesses políticos, tarifas protecionistas e instabilidade comercial.