50+ : a faixa etária que está ganhando ainda mais espaço no mercado de trabalho
O perfil do trabalhador brasileiro está passando por uma transformação significativa — e a geração “50+” tem sido protagonista desse movimento. Dados recentes do FGV IBRE revelam que, entre o final de 2012 e 2024, o número de pessoas com mais de 50 anos no mercado de trabalho cresceu 69%, alcançando 8,6 milhões de trabalhadores. O impacto é ainda maior dentro dos lares: segundo o IBGE, mais de 17 milhões de famílias têm seu sustento garantido por alguém dessa faixa etária.
O cenário aponta para uma mudança de mentalidade. Ao contrário da ideia de aposentadoria como fim da vida produtiva, brasileiros maduros estão buscando novas oportunidades para manter autonomia, propósito e renda — e muitos encontram nos cursos técnicos o caminho ideal para essa reinvenção.
No polo de Vila Velha da Grau Técnico, Dona Enedina, de 70 anos, é um exemplo vivo desse movimento. Realizando o sonho de estudar o que sempre gostou, ela está aprendendo modelagem e costura sob medida.
“Estou aqui para aprender a fazer os moldes, para poder costurar sob medida. Depois dos 70 anos, essa foi a única oportunidade que eu tive de estudar. Atualmente estou estudando a minha primeira saia e quero chegar até o fim. Fico muito feliz com essa oportunidade”, contou.
Já no polo de Cariacica, o aluno Demerval Gabriel de Lima decidiu retomar um antigo desejo: trabalhar cuidando de pessoas. Hoje auxiliar de serviços gerais, ele está cursando Técnico em Enfermagem e projeta novos horizontes para a própria vida e para a da família.
“Há 15 anos iniciei um curso gratuito na área, mas pensei que não era a minha vocação. Os anos se passaram e senti um chamado para cuidar do próximo, principalmente os mais velhos, então voltei a estudar. Minha intenção é ser um professor que atua na área social e em atividades voluntárias”, afirmou.
Para ele, a retomada dos estudos tem sido motivo de orgulho dentro de casa.
“Sou um espelho e um incentivo para minha família. Minha neta manifestou o desejo de seguir meus passos. Creio que, em breve, ela fará sua inscrição para o curso técnico em enfermagem.”
Apesar de avanços importantes, o etarismo ainda coloca barreiras para trabalhadores maduros. Um estudo da Ernst & Young em parceria com a Maturi mostrou que 78% das empresas brasileiras admitem ter dificuldades em contratar profissionais acima dos 50 anos. Em muitos casos, essa faixa etária representa menos de 10% do quadro funcional.
Ainda assim, a demanda por requalificação cresce. A busca por atualização e novos conhecimentos levou escolas técnicas e centros de capacitação a ampliarem suas ofertas para esse público — e o movimento tem surtido efeito.
De acordo com Isabella Lira, Gestora da Grau Técnico no Espírito Santo, a instituição tem registrado aumento constante de alunos 50+.
“É inspirador ver pessoas que decidiram voltar a estudar depois de décadas, muitas vezes para realizar um sonho antigo ou iniciar uma nova carreira”, destacou.
Para muitos alunos, os cursos vão além da formação profissional: promovem socialização, fortalecem a autoestima e estimulam a continuidade do aprendizado ao longo da vida. Ao mesmo tempo, empresas começam a reconhecer o valor da experiência — profissionais maduros costumam trazer equilíbrio, comprometimento e foco para as equipes.
Com a expectativa de vida em alta e a medicina avançando, viver mais tem significado viver melhor e de forma ativa. O mercado de trabalho e as instituições educacionais passam, assim, a se adaptar a essa nova realidade, promovendo um envelhecimento produtivo e repleto de possibilidades.